domingo, 22 de janeiro de 2012

O que é mercadejar a Palavra de Deus?


O mercantilismo surgiu na Europa, entre os séculos XV e XVI, quando um conjunto de práticas e medidas econômicas começou a ser usado pelos Estados, com os objetivos de unificar o mercado interno e possibilitar importação e exportação entre os países. Nessa mesma época já existia também uma forma de mercantilismo religioso, praticado pela Igreja Católica Romana.

Em Uma Breve História do Mundo, o professor Geoffrey Blainey afirma: “A Igreja reuniu cobradores de impostos profissionais e, assim como as pessoas que hoje ajudam a angariar fundos nas instituições de caridade, eles se encarregavam de vender indulgências. (...) Martinho Lutero detestava a prática de venda de indulgências, que nada mais eram que pacotes caros pagos pelo perdão. Em 31 de outubro de 1517, na véspera do Dia de Todos os Santos, um dia importante do calendário, afixou seus protestos em latim à porta da igreja do castelo de sua cidade” (Fundamento, p.185).


Há críticos mal-informados na Internet afirmando que a simples comercialização de livros, CDs, DVDs e outros produtos evangélicos ou o recebimento de direitos autorais caracterizam mercantilismo da Palavra. Entretanto, ao dizer: “nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus” (2 Co 2.17, ARA), Paulo se referiu à conduta dos falsos obreiros, que, para ganhar dinheiro, estavam dispostos a tudo, inclusive a falsificar as Escrituras (1 Tm 6.8-10).


Desde os tempos da igreja primitiva havia pessoas mal-intencionadas, sem compromisso com as Escrituras, interesseiras e sem temor de Deus que vagueavam pelas igrejas cristãs usando o Evangelho para obter lucro (2 Co 11.3-15). Isso levou o apóstolo Paulo a mostrar aos cristãos de Corinto que ele era diferente desses aproveitadores. Referindo-se aos falsos mestres, o apóstolo Pedro, de igual modo, alertou os crentes da época quanto aos que mercadejam a fé (2 Pe 2.1-3).


Mercantilizar a Palavra (ou m
ercadejar a fé) diz respeito à prática de obreiros fraudulentos. Estes se valem do Evangelho para obtenção de vantagens financeiras ou lucro, o que é, sem dúvida, uma forma condenável de comercialização.

O mercantilismo do Evangelho, portanto, consiste no oportunismo de pessoas que se aproveitam da simplicidade e da ingenuidade das pessoas para ganharem dinheiro de modo fácil. Grosso modo, editoras, gravadoras, escritores, compositores e cantores não podem ser acusados de mercantilistas, a menos que usem de má-fé e se valham de heresias de perdição, como é o caso da teologia da prosperidade.


Falsos obreiros há que, em vez de abrirem uma mercearia ou uma padaria, optam pela comercialização do Evangelho. Ignoram que já existem igrejas bem estruturadas, capazes de formar discípulos de Jesus e acolhê-los, e fundam as suas próprias igrejas-negócios. Segue-se que o mercantilismo é caracterizado quando o dinheiro é acausa, e não o efeito.


Exploradores da fé se aproveitam da liberdade religiosa que vigora no Brasil e da facilidade para abrir uma igreja. Afinal, são necessários apenas cinco dias úteis e menos de R$ 500,00 em despesas burocráticas para estabelecer uma igreja legalmente, com CNPJ e tudo. É preciso somente o registro da assembleia de fundação e do estatuto social em cartório.


Boa parte dos programas evangélicos de TV também é mercantilista. Não apresem conteúdo evangelístico; sua ênfase recai no triunfalismo e na prosperidade meramente financeira, como se isso fosse a prioridade do cristão. Seus apresentadores se valem de mensagens “proféticas” e testemunhos de pessoas que teriam recebido vitórias financeiras, mediante os quais sensibilizam os telespectadores a lhes enviarem vultosas contribuições.


Há poucos dias, conversando com um pastor e amigo de Fortaleza-CE, falávamos a respeito de um famoso telepregador que defende a falaciosa ideia de que as ovelhas existem para enriquecer os pastores. Isso também é uma forma de mercantilismo. À luz do Novo Testamento, o pastor que segue o exemplo do Sumo Pastor deve se sacrificar em prol das ovelhas, e não o inverso: “Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10.11).


Ciro Sanches Zibordi

Fonte Blog do Ciro

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