terça-feira, 17 de janeiro de 2012
A prosperidade no Novo Testamento
Neste trimestre, as igrejas que utilizam as Lições Bíblicas da CPAD estão estudando a respeito da verdadeira prosperidade, em contraposição à falaciosa teologia da prosperidade. A lição do próximo domingo gira em torno do que a Bíblia diz a respeito desse assunto nas páginas neotestamentárias.
Prosperidade nos Evangelhos
No Novo Testamento vemos que ter uma vida abastada, a despeito de isso ser muito bom, não é o principal alvo do salvo. O Mestre deixou claro, em Mateus 6.19-21, que não devemos priorizar as riquezas deste mundo. Para os teólogos da prosperidade, a vida cristã resume-se em ter saúde, bens, dinheiro, dispensa cheia... Tudo gira em torno de prosperidade financeira. No entanto, Jesus ensinou: “Trabalhai não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna” (Jo 6.27).
A comida para o corpo é insubstituível. Ninguém sobrevive sem alimento. Contudo, o Senhor Jesus falou de uma comida ainda mais importante e prioritária: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4.34).
Prosperidade nas cartas paulinas
Paulo, imitador de Cristo (1 Co 11.1), asseverou: “o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). Ele ensinou os cristãos em Roma e a nós, por extensão, a não ambicionarmos as coisas altas (Rm 12.16). E, em 1 Coríntios 15.19, afirmou: “Se esperarmos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens”.
Em Romanos 4, Paulo apresenta Abraão como um paradigma para todos os crentes. Esse homem de fé, entretanto, não prosperou apenas materialmente. Em nenhum momento de sua biografia, sua prosperidade material é apresentada como uma prova de fidelidade ao Senhor. A Palavra de Deus enaltece a sua postura de esperança, convicção da chamada divina, humildade, obediência e comunhão com o Todo-Poderoso (vv.18-21; cf. Hb 11.8).
Uma das afirmações paulinas favoritas dos defensores da falsa prosperidade é Filipenses 4.13. Mas ela nada tem a ver com a reivindicação de bênçãos em decorrência de contribuição financeira. Que tal lermos os versículos 11 e 12? À luz desse contexto imediato, o que Paulo quis dizer com “Posso todas as coisas”?
Primeiro: podemos, em Cristo, nos contentar com o que temos (1 Tm 6.8). Paulo não disse: “aprendi a conformar-me com o que tenho”, e sim “aprendi a contentar-me com o que tenho”. O nosso contentamento baseia-se na comunhão com Jesus, e não nos bens que possuímos. Nada é mais precioso que a salvação! Nossa alegria deve subsistir mesmo em meio às adversidades (Hc 3.17,18).
Segundo: podemos suportar, no Senhor, os momentos de abatimento ou humilhação. O crente que aprende isso nunca deixa de ser fiel nos períodos de angústia, mas permanece firme (Pv 24.10), alcançando vitórias em meio às tribulações e aflições (Jo 16.33; Rm 8.18).
Terceiro: podemos nos manter submissos ao Senhor e em paz com os irmãos, mesmo tendo abundância e fartura. Não pense que isso é fácil. Lembra-se de Abraão? A sua prosperidade quase lhe trouxe problemas de relacionamento com o seu sobrinho Ló (Gn 13.1-9). O servo do Senhor pode, em Cristo, ser vitorioso diante de tentações e perigos comuns a uma vida abastada.
Quarto: podemos enfrentar qualquer circunstância, inclusive a fome. Essa é a parte mais difícil do versículo em análise, pois ouvimos os pregadores da prosperidade dizendo o tempo todo que somos ricos, prósperos, etc. Ora, sabemos que, em regra geral, o crente não passa fome, nem padece necessidade: “Os filhos dos leões necessitam e sofrem fome, mas aqueles que buscam ao Senhor de nada têm falta” (Sl 34.10).
Entretanto, Deus pode permitir que passemos por privação e provação. E, se isso acontecer, devemos manter a nossa fé e continuar dando glória a Jesus. A Palavra do Senhor diz que nada — absolutamente nada — pode nos separar do amor de Cristo: nem a tribulação, nem a angústia, nem a perseguição, nem a fome, nem a nudez, nem o perigo, tampouco a espada (Rm 8.35-39).
Em 1 Timóteo 6.8-10, encontramos as razões pelas quais alguém abandona o verdadeiro Evangelho para seguir a teologia da prosperidade:
1) Falta de contentamento. “Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes” (v.8). A falta de contentamento gera ganância, avareza e consumismo. O ser humano é descontente por natureza, porém o Espírito Santo comunica ao crente gozo (Gl 5.22), regozijo (Fp 4.4), isto é, a alegria que vem do Senhor, a qual é a nossa força diante das adversidades (Ne 8.10).
2) Priorização das riquezas. “Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína” (v.9). Há crentes interesseiros, que não priorizam a comunhão com Deus. São egoístas; só pensam em seu bem-estar (2 Tm 3.2).
3) Amor ao dinheiro. “Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (v.10). Em Eclesiastes 5.10, também está escrito: “O que amar o dinheiro nunca se fartará de dinheiro; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda; também isto é vaidade”.
Quem não se contenta com o que possui, priorizando a busca de riquezas e o amor ao dinheiro, é capaz de fazer qualquer coisa para ganhar mais e mais dinheiro, até mesmo mercadejar a Palavra de Deus (2 Co 2.17, ARA). A avareza é uma espécie de idolatria (Ef 5.5), e nenhum idólatra entrará no Reino de Deus (1 Co 5.11; Ap 21.8).
A prosperidade em outras epístolas
Pedro, por sua vez, ensina que líderes e ensinadores, por não priorizarem a verdadeira prosperidade, negam “o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição” (2 Pe 2.1). Ele mostra que esses falsos mestres têm como motivação o dinheiro, visto que, por avareza, fazem “negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita” (v.3).
À luz do Novo Testamento, não é pecado ser pobre, nem rico. Somos livres para trabalhar e conquistar dignamente os nossos bens. Por isso, o texto de Tiago 2.1-5 apresenta algumas lições quanto à convivência em comunhão entre ricos e pobres na Casa de Deus:
1) Não deve haver acepção de pessoas (vv.1,4). Não podemos nos deixar influenciar por ideologias humanas, e sim pela Palavra de Deus, segundo a qual os ricos não devem menosprezar os pobres; nem estes, valendo-se do complexo de inferioridade, se indignar contra aqueles.
2) Não deve haver desprezo aos pobres (vv.2,3). É uma tendência humana julgar as pessoas pela aparência (1 Sm 16.7; Jo 7.24). No entanto, não devemos tratar melhor alguém só porque exibe um anel de ouro ou usa vestes preciosas. Ninguém é superior perante o Senhor. Todos devem se humilhar diante dEle (Lc 18.9-14).
3) Os pobres devem ser honrados. “Ouvi, meus amados irmãos. Porventura, não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?” (v.5). É claro que a salvação não é apenas para os pobres, porém esse versículo deixa claro que o Senhor prioriza a riqueza da fé, e não a prosperidade financeira.
Se os pobres são ricos na fé e devem ser honrados na Casa de Deus, não há fundamento na afirmação de que a pobreza é uma maldição, estando atrelada ao pecado ou a algum “encosto”. Isso é uma invencionice, e muitos crentes, por falta de conhecimento, estão sendo enganados por homens que mercadejam a Palavra de Deus.
Louvo a Deus por esse trimestre das Lições Bíblicasda CPAD!
Ciro Sanches Zibordi
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