sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Fé e razão - qual a diferença?

“Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento.” (Pv. 3.5).
“Estribar” significa firmar-se, apoiar-se em algo. Quando se monta num cavalo, coloca-se o pé no estribo, que é o ponto de apoio para se tomar o impulso necessário. O mesmo equipamento ajuda no equilíbrio do cavaleiro durante a cavalgada.

Alguns automóveis também possuem uma peça com este nome localizada no limiar da porta. Qual é o nosso “estribo” na vida? Em que nos firmamos para fazer nossas escolhas, tomar nossas decisões e determinar o nosso destino? Se nos firmarmos em algo instável, poderemos ser vítimas de uma queda perigosa ou até fatal. Será que a razão humana pode proporcionar apoio suficiente para garantir nosso êxito em todas as áreas?
Os limites da razão

O raciocínio é poderoso, porém limitado. O universo, a vida e a morte não podem ser explicados pelo homem. A mente possui uma capacidade impressionante para processar informações. Entretanto, não temos à nossa disposição todos os dados sobre todos os assuntos, principalmente no que tange à espiritualidade. E quando recebemos algum conhecimento nesse sentido, faltam-nos parâmetros de avaliação, pois a nossa lógica está restrita a elementos terrenos.

Até no campo natural, estamos bastante limitados, apesar dos avanços, descobertas e invenções. Os cientistas têm muitas teorias sobre os mais variados assuntos que, muitas vezes, são apregoadas como verdades absolutas. Entretanto, em alguns casos, são apenas especulações. Incluímos aí as teorias sobre a origem da vida, a teoria da evolução e outras que pretendem explicar o comportamento humano. A verdade é que o homem não conhece muito bem a si mesmo. A falta de conhecimento limita a eficácia do raciocínio.

Isto não significa que possamos desprezar a razão. Afinal, foi Deus quem no-la deu para que fôssemos superiores às demais criaturas terrenas. A ordem de não se estribar no entendimento não significa que devamos desprezá-lo. Entretanto, é necessário que compreendamos que existe o campo da razão e o campo da fé, embora haja uma considerável interseção entre ambos.
Conciliação parcial

Fé e razão caminham juntas até certo ponto. Daí se falar em “culto racional” (Rm. 12.1) e “razão da esperança” (1Pe. 3.15), passíveis de explicação e compreensão (Pv. 1.2; 1.6; 2.5; 2.9; 14.8). A fé não pode ser uma crença cega em qualquer afirmação que se faça a respeito de questões incompreensíveis ou coisas invisíveis. Se assim for, voltamos à estaca zero, acreditando em falsas teorias “científicas” e todo tipo de heresia.

A fé autêntica é a crença e a confiança em Deus, de acordo com o que a Bíblia ensina. Se Deus falou, por mais estranho que seja, acontecerá (ou já aconteceu), pois ele é fiel e poderoso para cumprir sua palavra.

Como podemos confiar assim na bíblia, descartando outras idéias sobre divindade e espiritualidade? Em primeiro lugar, podemos crer porque aquilo que a bíblia diz funciona. Mediante a operação do poder de Deus, conforme promessa bíblica, os enfermos são curados, os cegos enxergam, os paralíticos andam e vidas são transformadas para a prática da justiça através do amor. Estes sinais dependem da fé (Mc. 16), mas, olhando no sentido inverso, a fé é justificada e fortalecida pelos sinais.

Viver pela fé não significa confiar em ilusões, pois temos testemunhado os fatos que ela produz, sabendo que “a fé sem obras é morta” (Tg. 2.26). A ação de Deus é real na vida de todo aquele que crê. Quando vemos os resultados da fé, então a nossa razão toma conhecimento dos mesmos e, embora não possa explicá-los, também não pode negá-los.

Andando apenas pela razão teremos firmeza aparente, mas não iremos muito longe nas questões espirituais. Em nossa vida com Deus, podemos até entender o próximo passo, mas não temos como compreender todo o caminho (Pv. 20.24). Por isso, precisamos da fé. Podemos comparar a razão às rodas do avião, enquanto que a fé é comparável às asas.

Estar no solo pode ser necessário e seguro, mas não deve ser o lugar definitivo para uma aeronave. Enquanto for possível, nossa fé será coerente com a razão. Contudo, não será controlada por ela. A fé não dependerá da razão, irá além. Geralmente, trabalharemos dentro do chamado “bom senso”, mas até este elemento pode significar um condicionador racional e incrédulo por se tratar do lugar comum, fundamentado naquilo que é aceito e compreendido pelo homem natural.

O caminho da fé pode nos levar a fazer algo aparentemente absurdo por causa de uma ordem de Deus. Foi o caso de Noé ao construir a arca. Em situações extremas como essa, é imprescindível uma ordem direta de Deus, de modo que não haja nenhuma dúvida. Entretanto, algumas pessoas fazem loucuras em nome de Jesus sem que ele tenha mandado. Nesse caso, a razão e a fé foram abandonadas e a presunção tomou o seu lugar.

Por exemplo: se Deus disse que certa pessoa vai evangelizar várias nações, ela deve apenas crer, mesmo que não tenha dinheiro para ir ao bairro vizinho. Quando Deus disse que Sara teria um filho, ela riu, porque usou primeiramente a razão. Abraão usou a fé, e este foi o fator determinante para o nascimento de Isaque. Quantos estão rindo da nossa fé! Esperamos que eles também sejam alcançados, transformados e experimentem o poder de Deus.

Enquanto for possível, devemos conciliar a fé e a lógica. Se quisermos contrariar a razão sem que tenhamos uma palavra de Deus como fundamento, incorreremos em fanatismo. Se abandonarmos a fé para atendermos exclusivamente à razão, cairemos no racionalismo e na incredulidade.


A razão pode se tornar obstáculo à fé

Aquele que crê em Deus não está imune ao uso indevido da razão. Quando o Senhor nos dá uma ordem, principalmente através dos mandamentos bíblicos, usamos a razão para compreender o que fazer. Entretanto, ela pode nos atrapalhar quando tentamos entender o porquê daquela ordem ou os motivos de Deus. Esse tipo de raciocínio pode nos conduzir à desobediência. Quando Deus mandou construir a arca, Noé não questionou a ordem divina. Apenas tomou as providências necessárias ao seu cumprimento. O fator decisivo foi que ele andava com Deus, conhecia o Senhor, sabendo exatamente quem estava mandando.

Quando colocamos a razão em primeiro lugar, criamos obstáculos à operação de milagres. Pela fé, estejamos certos da ação de Deus em nossas vidas, não tentando descobrir como ou porque Deus vai agir.

Somos como crianças diante dele. Imagine se os filhos dependessem de compreender todas as ordens de seus pais em todos os seus detalhes? Se, para comer verduras, o filho precisasse fazer um curso de nutrição, teria sérios problemas. Entretanto, o filho conhece o pai e por isso confia e obedece.

Os ateus percebem o limite de sua dependência da razão quando se encontram num leito de enfermidade. Deus tem suas maneiras de convencer o homem. Nessa hora, pode ser que alguns se rendam à necessidade da fé. Entretanto, não é necessário esperar por isso. Renda-se ao Senhor enquanto é tempo, sabendo que a nossa vida é tão breve e que cada um de nós é um ponto insignificante no universo, embora sejamos valiosos para o Criador.

Como poderíamos, com a nossa razão, compreender Deus ou negar a sua existência? Apesar de nossa condição limitada, está ao nosso alcance uma série de evidências que testemunham sobre a realidade de Deus.
Confiança no Senhor


Confia no Senhor


“Confia no Senhor de todo o teu coração”, assim como uma criança confia no seu pai. “Não se turbe o vosso coração”, disse Jesus, “credes em Deus; crede também em mim” (João 14.1). Descanse no Senhor, mesmo não compreendendo a situação atual. Creia que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm. 8).

A confiança em Deus não elimina a oração. Pelo contrário, é por confiarmos no Senhor que levamos a ele os nossos pedidos. Em seguida, precisamos aprender a usufruir o descanso que a confiança proporciona. A criança confia no pai e por isso descansa, não se preocupando com o alimento do dia seguinte.

Quando entramos em um ônibus e dormimos, estamos confiando nossas vidas aos cuidados do motorista. Confiemos em Deus, entregando-lhe a direção da nossa existência. Confiança é um dos aspectos da fé. Contudo, confiar é mais do que crer. Confiar é entregar-se.

O descanso daquele que confia não deve ser confundido com negligência. A confiança no Senhor não serve como desculpa para a preguiça. A fé conduz à ação e não à inércia. Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance e depois descansar em Deus, confiando que ele cuidará daquilo que nós não podemos fazer.

A razão do enfermo lhe diz que a morte é certa.
Pela fé buscamos a cura.

A razão pode produzir desespero.
A fé produz esperança.

A razão avalia as circunstâncias.
A fé se baseia na palavra de Deus.

A razão anuncia a derrota.
A fé proclama a vitória.


Fonte: Rocha Ferida

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